2 poemas de CLARA MELLO

CANTO DA SEREIA

Entre coxas conchas
Ouço o barulho do mar
Amor afoga e transborda
Naufraga meu barco
E me entrega a boia.
Me conta lendas,
Me tira a memória
O amor é aquático
E tem que molhar.
Diz o ditado das ondas
Água mole em carne dura
Bate até a sereia cantar.

SIMPATIA DE DESAMOR

Hoje quase fiz uma macumba pra me desapaixonar por você
Uma oração pra São Cipriano de desamarração
A benção da Pomba Gira para despacho do tesão
Ainda faço a tal simpatia de desamor
As cartas confirmaram e a cigana reforçou
Que é poderosa e me traz o bem amado
Em até três dias, totalmente superado
Deixa o tambor tocar, o samba voltar
Parar de chover
Deixa o sol raiar, eu achar um par
Dançar pra valer
Eu já tô quase livre, você vai ver

Tem quase quinze minutos que eu não penso em você.

Clara Mello nasceu no Piauí, mas mora no Rio de Janeiro com seus gatos Dante e Pinga. É formada em Letras pela UFRJ. Escritora, roteirista, dramaturga e astróloga. A paixão é uma emergência é seu quinto livro, o segundo de poesia.

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